Monoteísmo Ancestral
Muitos dizem que buscam a Cabalá, mas poucos percebem que, na tradição judaica, a Cabalá não é algo que simplesmente se escolhe. Ela não é um curso, nem uma técnica, nem um conhecimento que se toma pela curiosidade. A Cabalá é uma resposta — não um convite genérico.
Na visão cabalística, quando alguém ‘vai em busca da Cabalá’ apenas pelo desejo intelectual, pelo fascínio do oculto ou pela promessa de poder espiritual, essa pessoa geralmente não encontra nada além de símbolos vazios. Isso acontece porque a Cabalá não se revela ao ego, mas à transformação do ser.
Os mestres sempre ensinaram que há pessoas que se aproximam da Cabalá, estudam, leem, ouvem — mas não permanecem. Não porque sejam incapazes, mas porque a alma ainda não está alinhada com aquilo que a Cabalá exige: responsabilidade, retificação interior e submissão à ética espiritual.
Diz-se, então, que não é o homem que encontra a Cabalá; é a Cabalá que encontra o homem. Quando a pessoa já passou por processos de maturidade espiritual, quando a Torá deixou de ser apenas texto e passou a ser vida, quando o serviço a Deus deixou de ser aparência e se tornou verdade interior — nesse momento, a Cabalá se aproxima.
Por isso, muitos sentem atração, mas poucos permanecem. A Cabalá não rejeita; ela apenas não se revela onde não há כלי (kli), recipiente. Ela exige silêncio interior, ética, humildade e compromisso.
No mundo atual, onde tudo é rápido, público e superficial, a Cabalá continua sendo o oposto disso tudo: profunda, reservada e exigente. Não é um caminho para escapar da realidade, mas para assumir a realidade com consciência elevada.
Buscar a Cabalá, portanto, não é procurar segredos. É permitir que a própria vida se torne digna de receber revelação.